quarta-feira, 18 de julho de 2007

Is dna cool?... novo mundo 7


AFOGAMENTO

Mantém-se os laços. Cumprem-se os acordos entre o velho Senhor e o Jovem que, todas as manhãs, o observa da outra margem do rio.
Um Jovem pálido, escanzelado, mas vigoroso. Talvez com um metro e setenta de altura e cinquenta e cinco quilos de peso. O corpo começa a dar passos lentos, fazendo justiça a uma diáfana beleza mediada pela luz solar, que lhe imprime uma luminosidade pouco vulgar naquela aldeia, desprezada, pobre, maldita. Ou até, amaldiçoada pelos Deuses.
O velho, mais antigo do que velho, olha-o, procurando alcançar com as mãos o que não pode tocar. A pele suave, levemente marcada pelo azul das múltiplas veias, engana, por momentos, a magreza do Jovem.
Senhor Oliver, Senhor Oliver, veja onde põe os pés. Desse lado, as areias são frágeis, misturam-se facilmente com as poeiras daquela usina, diz Joubert, apontando para o fundo, para longe, tentando alcançar o sítio de onde se observa o horizonte, e onde se ergue uma construção de chaminés que mal se vislumbra, tão enegrecida pelo fumo que transpira do interior do gigantesco imóvel.
O Senhor Oliver dá um passo, dois, ao terceiro hesita, mas continua. A firmeza da terra não difere muito da do seu próprio esqueleto. Por isso, nem dá conta que ao quarto passo se afunda no matagal líquido.
Joubert atira-se à água, dando violentas braçadas para tentar resgatar o velho, não, o antigo Oliver. Uma, duas, três, e começa a perder o fôlego. A sua falta de treino ainda é mais forte do que a sua compleição física. O Senhor Oliver, submerso, estende uma mão trémula. Joubert tenta agarrá-la. O peso do velho Oliver empurra-o para o fundo do rio. Joubert junta-se-lhe num abraço aflito, sem saber se deve dar o seu melhor para tentar novamente erguê-lo ou livrar-se dele. Acabam os dois sem ar… mas, antes de fechar definitivamente os olhos, Joubert encara o outro homem sem admiração…”Eu sou o senhor Oliver com menos cinquenta anos”.

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